Em tempo de mudanças climáticas, quando nações e indivíduos deveriam refletir como mitigar seus impactos no planeta, buscava entender como se daria na prática o conceito de desenvolvimento sustentável, isto é, como poderia aliar o desenvolvimento econômico à preservação ambiental de modo a suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações.
Consegui, finalmente, após passar 15 dias no arquipélago de Galápagos. Localizado a 1000 km da costa do Equador e desde 1978 declarado patrimônio Mundial, é formado por 58 ilhas, sendo apenas quatro habitadas: Ilha de Santa Cruz, São Cistobál, Isabela, e Floreana que juntas somam, segundo censo mais recente, 25.000 habitantes.
Formado por erupções vulcânicas há 7 milhões de anos no meio do oceano Pacífico, o arquipélago nunca foi conectado a nenhum continente. Os seres que alcançaram esse pedaço de paraíso desenvolveram características próprias: 90% das espécies de répteis são exclusivas de lá, bem como metade das 58 espécies de pássaros. Algumas espécies vegetais também são peculiares e exclusivas. O próprio nome Galápagos veio de uma espécie endêmica: as tartarugas gigantes. Há ainda lobos marinhos, iguanas marinhas – exclusividade de Galápagos – tubarões de várias espécies, arraias gigantes, milhares de peixes, corais, enfim, uma diversidade sem igual.
Este arquipélago me proporcionou, assim como à Darwin, estudar diferentes ecossistemas e suas formas de vida. Diferentemente dele que focou seu estudo na vida animal para elaborar a teoria evolucionista, quando observou a adaptação das espécies em diferentes ecossistemas, foquei exclusivamente no Ser Humano e em sua relação com o ecossistema no qual está inserido.
As quatro ilhas habitadas, desde Santa Cruz, com a maior população, à Floriana, com a menor, cada uma ao seu jeito, me possibilitou compará-las e observar como a ação humana interfere no meio que habita. Quanto mais povoada, mais fácil foi observar o impacto humano no Meio Ambiente.
Neste paraíso natural os visitantes em seus barcos de passeio ou os telespectadores através de programas de televisão desconhecem a transformação que o arquipélago sofre. Apesar de ter 93% de seu território como reserva ambiental, sendo o restante destinado à habitação, pecuária e agricultura de subsistência, Galápagos vem sendo ameaçado pelo desenvolvimento humano.
Por exemplo, a população das tartarugas Galápagos, fonte inspiradora da teoria darwinista, vem diminuindo, década após década a ponto de serem colocadas em cativeiros para reprodução com o objetivo de evitar a sua extinção. Sua população que era aproximadamente de 100.000 indivíduos, hoje possui apenas 1050. Em tempos remotos eram consideradas iguaria pelos visitantes do arquipélago e atualmente são ameaçadas pelas espécies introduzidas pelo homem no arquipélago - em 1900, havia 112 espécies exóticas registradas; em 2007, o total chegava a 1.321. Inclusive, esta ameaça de extinção já virou atração turística: George, o solitário de 97 anos é a ultima tartaruga de sua espécie e se encontra em cativeiro para preservação. Após a reprodução e em idade adulta são soltas no seu habitat natural.
Essa ameaça humana tem se tornado inevitável, principalmente depois de ter o seu acesso ao arquipélago facilitado. Pode-se chegar por avião ou barco. Optei pelo primeiro por ser uma viagem mais rápida: somente duas horas a partir de Guayaquil. Assim que pisei em solo galapaguenho, percebi a primeira grande interferência provocada pelo homem: o aeroporto. Foi construído na ilha de Baltra, anexa à Santa Cruz, pelos americanos na Segunda Guerra Mundial como base estratégica no Pacífico.
Assim, com o aeroporto, a Ilha de Santa Cruz se tornou a principal entrada do arquipélago e potencializou todo e qualquer tipo de ação humana. A principal delas foi o turismo, hoje a principal fonte de renda do arquipélago. Esta atividade é responsável por 173 mil visitantes anuais e uma receita de R$ 418 milhões, dos quais apenas R$ 60 milhões permanecem no arquipélago e o restante pertence às agências de turismo.
Quanto maior a importância desta atividade, maior se torna a ameaça ao Meio Ambiente, principalmente em razão de seus efeitos colaterais. Tanto é que em 1975 eram 7000 mil visitantes, em 1985 eram 17.840 e em 1989 mais que dobrou para 42.000. O aumento do turismo levou ao incremento da construção civil, da imigração em busca de oportunidades de emprego e um aumento na "importação" de suprimentos vindos do território continental do Equador.
Estes movimentos tiveram grande impacto local. Com a crescente imigração, a ilha foi cercada de estrutura para prover as necessidades humanas: rede sanitária, telefônica, de água etc. A principio esta imigração foi descontrolada. Hoje,contudo, para residir no arquipélago é obrigatório se casar com um nativo. Para controlar o turismo foi instituída uma taxa de ingresso na ilha variando de $50 a $100. Já para os suprimentos cuja “importação” introduz espécies exóticas, sejam elas trazidas pelos cascos dos navios ou na bagagem dos visitantes, foi instituída uma inspeção obrigatória no aeroporto continental e na chegada ao arquipélago, evitando que tragam alimentos e animais.
O turismo é sentido principalmente em Porto Ayora, centro urbano da ilha de Santa Cruz, onde há toda uma estrutura montada em função desta atividade. É o maior e principal porto no arquipélago e de onde saem diariamente diversos tours para as demais ilhas. Além disso, por se localizar no meio do arquipélago e ter o principal aeroporto, até recentemente o único do arquipélago, se tornou o principal destino turístico de Galápagos. Por estas razões se tornou a ilha mais populosa. Com aproximadamente 11 mil habitantes, Porto Ayora tem diversos estabelecimentos comerciais, como agências de turismo e bancárias, restaurantes, hotéis de luxo, albergues, cybers café, casas noturnas, entre outros, todos na sua grande maioria voltada ao turismo.
Assim, à primeira vista, quem busca um paraíso natural isolado do mundo se frustrará por não encontrá-lo em Santa Cruz. A praia mais próxima, Tortuga Bay, localiza-se à uma hora de caminhada do porto, não sendo possível acesso por outro meio. Encontramos, ainda, trânsito de carros e de barcos, algo inimaginável nas outras ilhas. Mas é claro que em meio a esta confusão, podemos encontrar lindos pelicanos e arraias no porto. Leões marinhos também são vistos, mas em quantidade muito menor se comparado à Ilha de São Cristobál.
Como ilha mais populosa se faz imperativo o investimento em fontes de energia limpas. Quanto mais habitantes, maior a demanda energética. Neste sentido, há um projeto em andamento para construção de uma usina eólica em Baltra, próxima ao aeroporto, capaz de gerar 5000 MWh/ano, o que geraria uma redução no consumo de diesel de 450.000 galões/ano e, conseqüentemente, as emissões de Co2 em 3,680Ton/ano, de SO2 em 5.76 Ton /ano e de Nox em 49 Ton /ano. Há, ainda, postos de coleta seletiva dos resíduos sólidos, mas não são muitos. Lixeiras também são poucas. Mas sempre prevalece o bom senso dos turistas e habitantes para não jogar o lixo na rua. Dificilmente, para não dizer impossível, encontrei lixo no chão.
Como é um arquipélago, o descarte dos resíduos é bastante difícil. Desta forma, acredito que deveriam usar o lixo como fonte geradora de energia. Reutilizaria/reciclaria o que pudesse e o rejeito incinerado. Poderia, ainda, aproveitar o gás metano oriundo da decomposição destes materiais na geração de energia. Mas isso ainda parece estar em um futuro bem distante.
Já São Cristobál, a ilha mais velha com 7 milhões de anos, é a segunda mais povoada com 6 mil habitantes. Esta ilha conta com a capital do arquipélago Puerto Baquerizo Moreno, centro urbano da segunda maior ilha do arquipélago em extensão. O turismo não tem a mesma intensidade que Santa Cruz, mas são notórios os investimentos que a ilha vem recebendo com o objetivo de atrair cada vez mais visitantes a essa ilha cuja principal atividade econômica ainda é a pesca. Como Santa Cruz, há também toda uma estrutura turística como hotéis, restaurantes, agências de turismo e bancárias entre outros. Contudo, apesar de ter estrutura inferior, apresenta uma qualidade de vida superior. É uma ilha mais tranqüila e com menos distúrbios.
Ao contrário de Santa Cruz, a natureza é presença constante, principalmente em razão das praias se localizarem a poucos metros do porto e dos principais hotéis. O calçadão a beira mar chama atenção não só pela revitalização, mas também pelos imensos e simpáticos anfitriões que costumam receber, ainda no porto, os recém-chegados: os leões marinhos. Eles estão por todas as partes e encantam até mesmo o visitante mais medroso. Podem ser encontrados deitados, dormindo, amamentando, nadando, brincando, enfim, da maneira que lhes forem convenientes. Umas das experiências mais emocionantes é a possibilidade de nadar com eles. Eles não temem os Seres Humanos – o que demonstra estarem acostumados à nossa presença - principalmente dentro d’água quando na maioria das vezes brincam com todos que se arriscam a nadar no mar congelante galapaguenho. Além deles, ainda encontram-se iguanas marinhas e terrestres, tartarugas marinhas e terrestres, arraias e uma diversidade de pássaros.
Neste momento percebe-se o porquê deste arquipélago ser tão especial. A convivência harmoniosa entre Seres Humanos e animais se mostra possível nesta ilha. Para tanto deve ser respeitado duas regras básicas: não tocá-los em hipótese alguma e manter uma distância mínima de 2 metros. Parece que todos os visitantes e nativos respeitam estas regras. Mas o contrário não é verdadeiro. Há momentos que está relaxando na praia quando um leão marinho se aproxima de você. Caso não tenha um bom reflexo, poderá ser “atropelado”.
Os seis mil habitantes da ilha são abastecidos desde 2007 por uma usina eólica construída por capital misto. Tem 3 hélices com capacidade de 800Kw cada uma. A usina pode gerar 6.600 MWh/ ano, o que levou à redução de 52% do consumo de diesel empregado na geração de energia elétrica. Conseqüentemente, reduziu-se em 2.800 ton/ ano a emissão de CO2. Antes de entrar em operação, esta usina passou por avaliações ambientais e muitas mudanças para minimizar seu impacto nas espécies locais. Alteraram o local das turbinas quando descobriram que as hélices estavam próximas de ninhos do petrel de Galápagos (Pterodroma phaeopygia), um pássaro em risco de extinção. Durante o dia, essa ave pesca no mar e só retorna à ilha à noite. Além disso, três quilômetros de linhas de transmissão elétrica foram instalados sob a terra para proteger as aves.
Gostaria, ainda, de retornar a esta ilha não só pelas experiências que me proporcionou, mas também para observar as mudanças que terá. Recentemente foi inaugurado um vôo direto para São Cristobal por uma empresa aérea chilena. Acredito que seu destino é se tornar como Santa Cruz e a convivência harmoniosa se perder. A conferir.
Em um nível menor que as duas anteriores encontram-se a ilha de Isabela. É a de maior extensão e a mais jovem. Com aproximadamente 1600 habitantes, tem como grande atrativo seus cinco vulcões ativos, sendo um deles o ponto mais alto do arquipélago, o vulcão Wolf.
Ao contrário de Santa Cruz e São Cristobál não possui estrutura turística. Há apenas pousadas e restaurantes e poucas agências turísticas. As vias públicas não são asfaltadas, sendo
cobertas de terra e areia. Com pouquíssimos carros, utilizados apenas para fins turísticos, o meio de locomoção mais utilizado é a bicicleta.
Desta forma, já se percebe que a natureza nesta ilha foi pouquíssima alterada. Tubarões, tartarugas, leões marinhos, pássaros – entre eles flamingos e pingüins – são facilmente encontrados. De tão pequena, presenciei uma experiência curiosa. Em Porto Villamil, o centro urbano da ilha, há 4 cachorros. Sem donos, todos os quatro permanecem soltos e livres o tempo inteiro. Todos os habitantes da ilha cuidam deles. Todos os habitantes se conhecem pelo nome e sabem que vivem em um paraíso ecológico, possuindo, assim, uma grande consciência ecológica, contribuindo para a manutenção da limpeza da ilha, apesar de não ter lixeiras ou coletores de lixo públicos.
Para mantê-la assim, está sendo introduzido nesta ilha um sistema híbrido fotovoltaico-diesel capazes de gerar 700 Kwh. Acredito que este tipo de energia limpa é a melhor opção para o arquipélago, em razão da sua localização na linha do Equador. Neste ponto a incidência de Sol é maior do que em qualquer outro lugar do planeta e essa vantagem deveria ser mais bem explorada.
Por último, a ilha Floreana. A primeira a ser habitada e a menos populosa com aproximadamente 150 habitantes. Não tem qualquer estrutura turística. Não há hotéis ou restaurantes. Pode-se conhecê-la somente através de tours diários saindo de santa Cruz ou por cruzeiros. Nesta ilha a natureza está intacta. Não há qualquer impacto humano. E para mantê-la assim, construíram em 2006 um sistema de geração elétrica fotovoltaica com capacidade de 20.6 KMh, suprindo 30% da demanda energética. A demanda restante é suprida por diesel.
Assim, estas quatro ilhas, diferentes em tamanho, qualidade de vida, idade e em população me possibilitou observar que quanto mais populosa maior era a transformação humana, seja ela para atender às demandas turísticas ou até mesmo de seus habitantes.
Antigamente, esta exploração territorial e dos recursos naturais era descontrolada. Mas o governo equatoriano percebendo a riqueza que tem em “mãos” começou a controlar e mitigar estes impactos. Dentre as medidas adotadas estão: capacitação dos nativos para competirem no mercado turístico; determinação da capacidade de carga tanto das áreas naturais quanto de regiões próximas ao centros povoados, e fechamento temporário das áreas que tenham ultrapassado sua capacidade de carga, evitando dessa forma impactos irreversíveis; estabelecer um monitoramento ambiental (biológico e social) para avaliar os efeitos provenientes da atividade turística nas áreas de visita e nas estruturas urbanas; estimular uma demanda por produtos produzidos pela próprias ilhas, originados a partir de uma produção sustentável, seja da pesca artesanal, agricultura ou pecuária e reconhecidos através de um selo verde; controlar a participação da renda gerada pelo turismo, para que uma parte significativa dos recursos obtidos nas atividades turísticas seja revertida ao Parque Nacional Marinho de Galápagos e às comunidades locais;
O principal objetivo destas medidas foi adequar as pessoas e suas atividades às áreas naturais e não o que geralmente ocorre, em que as áreas naturais são adequadas de acordo com as pessoas. Em linhas gerais, a principal diferença entre minhas observações e a de Darwin, é que ele constatou que os animais se adaptavam às condições impostas pela natureza, enquanto verifiquei que o ser humano é quem adaptava a natureza às suas necessidades.
Nas ilhas mais populosas via-se claramente a natureza se perdendo em meio ao caos “urbano”. Nas ilhas menos habitadas a natureza era encantadora e intacta. Percebi assim que
o desenvolvimento sustentável é possível, desde que haja uma grande consciência ecológica dos habitantes que priorizariam a preservação ambiental em detrimento do desenvolvimento econômico.
Quando este último passa a ser prioridade, não restará nenhum animal ou vegetal para contar alguma estória para as próximas gerações.
Uma idéia que virou realidade...
Pessoal,
Como todos sabem, pelo menos aqueles que me conhecem, sou apaixonado pela temática ambiental. E após muito refletir, decidi criar este blog para expor minha idéias e tentar divulgar notícias, inovações nesta área, e claro, opiniões e análises críticas do que vem ocorrendo no mundo da sustentabilidade.
Peço que comentem, sugiram assuntos, critiquem, enfim, que este seja um espaço para discutirmos os mais variados assuntos.
Beijos e abraços a todos!
Jean Marc Sasson
Como todos sabem, pelo menos aqueles que me conhecem, sou apaixonado pela temática ambiental. E após muito refletir, decidi criar este blog para expor minha idéias e tentar divulgar notícias, inovações nesta área, e claro, opiniões e análises críticas do que vem ocorrendo no mundo da sustentabilidade.
Peço que comentem, sugiram assuntos, critiquem, enfim, que este seja um espaço para discutirmos os mais variados assuntos.
Beijos e abraços a todos!
Jean Marc Sasson
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Caro Marco,
ResponderExcluirgostei muito estou planejando ir lá com meus filhos para terem oportunidade de conhcer este lugar tão importante. Voce pode me dar umas dicas de viagem.
Celso