Uma idéia que virou realidade...

Pessoal,

Como todos sabem, pelo menos aqueles que me conhecem, sou apaixonado pela temática ambiental. E após muito refletir, decidi criar este blog para expor minha idéias e tentar divulgar notícias, inovações nesta área, e claro, opiniões e análises críticas do que vem ocorrendo no mundo da sustentabilidade.

Peço que comentem, sugiram assuntos, critiquem, enfim, que este seja um espaço para discutirmos os mais variados assuntos.

Beijos e abraços a todos!

Jean Marc Sasson

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Coluna Ambiente Energia de 22/08/2011 - Luz e sociedade


Por Jean Marc Sasson*, colunista Ambiente Energia – No dia 05 de Agosto de 2011 eu estava trabalhando normalmente em meu computador, quando, de repente, próximo ao meio dia, ocorreu um apagão. Neste momento, eu e meus colegas de trabalho nos olhamos atônitos sem saber o que fazer. Sem luz e com os computadores desligados, fomos obrigados a paralisar nossas atividades. Levantei-me na tentativa de observar o que se passava no andar. Percebi que isso foi um movimento simultâneo. Todos se levantavam perdidos, literalmente cegos.
Todo o andar estava escuro. Como já era horário de almoço, larguei tudo sobre a mesa do jeito que estava e fui até o elevador. Que cabeça a minha! Sem energia, o elevador não funciona! Busquei a única saída, a escada. Havia formado uma fila indiana para descer os sete andares até o térreo. Nunca vi a escada do prédio tão cheia. E a cada andar que passava mais pessoas buscavam a escada na tentativa de fugir da escuridão e somavam mais pessoas à fila.
Finalmente no térreo, fiquei assustado ao constatar que o prédio estava sem qualquer segurança. Na entrada, em razão da paralisação do controle da roleta do prédio, as pessoas entravam e saiam do prédio desorganizadamente. A portaria parecia mais uma feira.
Saí do prédio e observei que não era somente no prédio que trabalho que estava sem energia e sim na rua inteira. Sinais não funcionavam. Restaurantes com as luzes apagadas. Peguei o celular para buscar informações sobre o que estava ocorrendo. Opa! Qual não foi minha surpresa quando vi que meu celular estava sem sinal! Neste momento, me bateu um verdadeiro desespero! Não podia ficar sem meu celular, meio fundamental para me conectar e me comunicar com meus amigos e familiares. Não sou ninguém sem ele.
Sem outra alternativa, resolvi não perder tempo lamentando e parti em busca de um restaurante. Não esperando outra coisa, sabia que todos os restaurantes estariam entupidos e com filas gigantescas.
Acreditava que eu seria um dos únicos a ter a bela idéia de almoçar enquanto a situação não voltasse a normalidade. Esperei pacientemente. Escolhi um restaurante self-service, acreditando que a  comida tinha sido preparada antes do horário do almoço e antes do apagão. Coloquei a comida no prato e me sentei de frente para a TV, como de costume. Senti a falta de ver o jornal da tarde. Sempre que eu almoço, aproveito para me atualizar das notícias. Mas naquele dia não pude. A televisão não estava ligada. Contentei-me a almoçar em meio ao alvoroço da rua e do restaurante.
Sem a TV para me entreter, não pude deixar de ouvir as conversas alheias enquanto almoçava. Um rapaz que aparentava ter pelo menos 28 anos estava preocupado como voltaria para casa. Sem luz, o metrô não funcionaria. Seria obrigado a voltar de ônibus. Além de a viagem demorar o dobro do tempo, o “quentão”, como ele mesmo chamou, estaria lotado. Seria difícil conseguir um lugar em pé, imagine sentado! Viajar durante duas horas e meia em pé após um dia estafante de trabalho seria o fim, decretou.
Outra mulher ao meu lado, estava preocupada em perder o capítulo de Insensato Coração, novela das 21 horas da Globo em fase final. Seu jovem amigo estava triste, pois não poderia ir ao cinema com a sua namorada naquela noite noite. Com certeza, estas eram algumas das preocupações das muitas que assolavam os cariocas naquele dia. O que fariam a partir daquele momento sem luz. Os planos de sexta-feira estavam sendo desfeitos e precisariam ser replanejados.
Para felicidade de todos, após três horas de blecaute, a luz voltou e junto com ela, a felicidade. Na internet descobri que o apagão ocorreu em razão de um problema na subestação da Light S/A localizada no bairro de Grajaú, na zona norte da cidade. Por conta disso, houve necessidade de corte de carga de 190 MW, atingindo os bairros da Tijuca, Andaraí, Grajaú e Rio Comprido, na zona norte, e Copacabana, Leblon, Ipanema, Leme, Botafogo, Lagoa, Jardim Botânico e Urca, na zona sul. Após sair do trabalho, fui pensando no que havia testemunhado. Algo tão natural, mas que me pareceu fora de realidade.
Comecei a imaginar como era o mundo antes da invenção do fogo, a primeira fonte de energia. Como os seres Hhmanos sobreviviam comendo alimentos in natura, sem utilizar aparelhos eletrônicos, escrevendo nas pedras suas mensagens sem sequer imaginar a possibilidade da existência de computadores. Eles viveram e sobreviveram. Então foi possível. É certo que apenas quando há eventos como este, é que percebemos a importância da energia no mundo atual e, sobretudo, em nossas vidas. Tudo, com algumas exceções, funcionam à base de energia elétrica.
Celulares, elevadores, fogões, computadores, lâmpadas, sinais de trânsito, enfim, uma cidade, um estado ou um país inteiro depende do fornecimento de energia elétrica. As empresas e indústrias modernas transformaram a capacidade de trabalho humana em secundária. De nada adiante ter trabalhadores, se não há tecnologia para suportar e auxiliar nos processos e hábitos básicos do dia-a-dia. Até para se preparar o costumeiro cafezinho, se faz necessário nas empresas uma máquina elétrica. Quando não há energia para pô-las em funcionamento, o capital humano perde seu valor.
Vejamos outro exemplo simples e banal. Diariamente, agentes e investidores no mundo inteiro acompanham a evolução de ações mobiliárias, vendendo e comprando ações. Seria possível imaginar a economia moderna com vultosos investimentos, mundialmente interligada, paralisada por ausência de energia nas bolsas de valores? Sem energia, não há funcionamento das bolsas de valores. Sem elas, não há aplicações. E sem aplicações, não há economia.
A sociedade moderna é tão dependente de eletricidade que o dia em que não houver o seu fornecimento, haverá um colapso. Até torço para que isso ocorra, pois estamos trilhando um caminho sem volta. Usurpamos os recursos naturais para transformá-los em matéria-prima necessária à sobrevivência humana.
Serão mesmo essenciais? Hoje consumimos mais do que o Planeta Terra é capaz de regenerar. Acredito ser uma dependência provocada pelo Capitalismo na sua forma de produção e, principalmente, na sua forma de consumo. A cada dia aparecem novos produtos que transformam os indivíduos. Produtos que criam novas necessidades antes desconhecidas por nós. Por exemplo, há 20 anos não existia o aparelho celular. Hoje cada brasileiro tem em média 2 aparelhos. Um só não adianta. E tenho certeza que ninguém hoje é capaz de viver sem este aparelho portátil. Muito menos eu!
De tempos em tempos, ou melhor, de hora em hora, novas tecnologias surgem substituindo e tornando absoletas as anteriores, coagindo os consumidores através de técnicas apuradas de marketing a comprar novos produtos. Os produtos antigos viram simplesmente lixo e seus materiais não são devidamente reciclados. E assim continua o ciclo vicioso. Por sorte, ao menos, os novos aparelhos são mais eficientes e consomem menos energia. Mas como novas necessidades estão sempre surgindo, a demanda por energia não pára de crescer.
No momento de reflexão, pensei: Onde iremos parar? Onde será o fim da linha? Será que um dia deixaremos de ser viciados em energia?
Não pude ser hipócrita e percebi que voltar a viver como homem das pedras seria impossível. Mas com certeza, seria possível dar mais valor à energia e utilizá-la de forma mais eficiente. Não sejamos cegos. A energia elétrica é a luz da humanidade.
* Jean Marc Sasson é advogado com especialização em gestão ambiental pela COPPE/UFRJ. O colunista também é editor do blog Verdejando (www.verdejeando.blogspot.com)

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