Uma idéia que virou realidade...

Pessoal,

Como todos sabem, pelo menos aqueles que me conhecem, sou apaixonado pela temática ambiental. E após muito refletir, decidi criar este blog para expor minha idéias e tentar divulgar notícias, inovações nesta área, e claro, opiniões e análises críticas do que vem ocorrendo no mundo da sustentabilidade.

Peço que comentem, sugiram assuntos, critiquem, enfim, que este seja um espaço para discutirmos os mais variados assuntos.

Beijos e abraços a todos!

Jean Marc Sasson

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Posto Ecoeficiente Ipiranga: um novo conceito de posto.

Fui convidado na última quarta-feira, 04/12, a conhecer um novo conceito de posto de combustível lançado pelo Grupo Ultra para seus postos de combustíveis Ipiranga.
Este novo conceito leva em consideração a gestão da água, resíduos, materiais e de energia, podendo ser adotado por novos revendedores ou reformado pelos antigos. O grupo atualmente soma 750 unidades entre inaugurados e em processo de implantação, com o objetivo de implantar futuramente em todas as  6 mil unidades atuais.
Em dois anos de implantação deste novo modelo, já foi gerada uma redução de 1,6 GW/mês em consumo energético, o equivalente ao consumo semanal de 45 mil residências e 92 mil Litros de água, o equivalente ao consumo mensal de 92 residências.
Os postos ecoeficientes para alcançarem este resultado foram projetados para coletarem água da chuva,reutilizar a água de lavagem de veículos, instalação de torneiras e chuveiros  de fechamento automático e diminuição de consumo de água nas descargas dos vasos sanitários. Além disso, foram desenvolvidas soluções para um melhor aproveitamento da luz natural, integrando-a com a artificial, além da utilização de lâmpadas e luminárias mais eficientes(ainda não é utilizada a LED - aguardada para a segunda edição do projeto), e sensores de presença para evitar o desperdício de energia.
Tais ações expandem-se para as lojas de conveniência dos postos, adotando-se as seguintes diretrizes: sistema de exaustão do calor proveniente dos refrigeradores, elementos sombreadores,  vidro especial  e isolamento térmico nas paredes e forro que levam a menor utilização do ar condicionado e consequentemente a um menor gasto energético.
Por fim, a ecoeficiência também é pensada desde a construção/reforma do posto. Utiliza-se o Sistema Light Steel Framing na edificação, sistema modular com estrutura em aço 100% reciclável, gerando a redução de 40% de resíduos na construção, redução de 80% de utilização de concreto e aumento em 50% no tempo de entrega da obra. 
Importante mencionar que apesar dessas ações ecoeficientes diferenciarem o posto de combustível que adotá-las, não geram nenhum custo adicional em relação ao posto tradicional. Na verdade, quando pensamos em Sustentabilidade há sempre uma redução de custos. Assim, os postos ecoeficientes oferecem ao revendedor um payback variável em relação ao nível de ações adotadas que o posto tradicional não oferece. Mais do que isso: ao adotar a ecoeficiência, agrega-se valor à marca e aos serviços do Posto ao preservar os recursos naturais.
Enfim, este projeto é mais uma prova da evolução da maturidade das empresas em relação ao tema de Sustentabilidade. Começam a entender a necessidade atual de atender às exigências mercadológicas de construir projetos sustentáveis, visando agregar valor à sua marca e se relacionar melhor com seus stakeholders.
Parabéns ao Grupo Ultra e ao Posto Ipiranga pela iniciativa. Espero ver cada vez mais os Cataventos da ecoeficiência nos postos de combustíveis do grupo pelo país afora.


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Impasse climático: haverá um fim?

A COP 19 que ocorreu em Varsóvia está sendo um dos maiores fiascos da História das negociações climáticas. Tida como a COP que daria início ao marco regulatório internacional para as negociações climáticas, cujo termo final será em Paris em 2015, acabou sem qualquer consenso.
Diversos fatores levaram ao fracasso: desde a polônia sediar concomitantemente uma conferência sobre carvão mineral, passando pela demissão do Ministro polonês e presidente da COP durante a conferência- o país sede em regra lidera as negociações - e pelo abandono de ONG's ambientais importantes como o Greenpeace das negociações e, sobretudo, a eterna discussão sobre as metas de corte de emissões de CO2.
Previamente à reunião, chegou-se a acreditar que esta COP seria diferente das outras com a imposição de metas, voluntárias ou não, aos principais emissores, em razão das recentes catástrofes naturais, como o furacão Filipino Hayan que matou mais de dez mil pessoas.
Contudo, os países ricos, historicamente os maiores emissores de Gases de efeito estufa(GEE), querem dividir a conta com os emergentes que por sua vez não querem assumir metas por estarem se desenvolvendo, insistindo que as reduções dos países ricos e desenvolvidos devem ser maiores e mais drásticas.
Em um contexto de crise econômica, cortes de GEE afetariam diretamente a produção industrial e o crescimento do PIB. A União Européia que sempre liderou as negociações destas metas, fugiu da sua função em razão da crise no bloco. EUA, o maior emissor de GEE do mundo, que sequer havia assinado o protocolo de Kyoto e que na eleição de Obama teve um suspiro de esperança, seguem alheios ao seu peso nas discussões. A China, segundo maior emissor, concorda com a redução e segue investindo em energias renováveis, mas condiciona a sua participação à inclusão dos EUA.
Assim, frente à realidade atual de furacões, tufões, tempestades e enchentes cada vez mais frequentes, não passamos ainda de um cenário de cortes voluntários. O Brasil impôs um corte voluntário, já alcançado com a redução do desmatamento amazônico. Espera-se mais do Brasil, muito mais. Tanto em cortes de GEE quanto em liderança nas negociações.
Vejo com grande esperança e também desdém em relação à resolução deste impasse.
Não adianta os principais países condicionarem suas responsabilidades às participação dos demais. devem primeiro fazer o dever de casa para depois exigirem dos outros. Com o impasse todos saem perdendo, inclusive os próprios negociadores e governantes .
Acredito que o G-20, bloco econômico das 20 maiores economias mundial, deveria arcar com a responsabilidade de cortes profundos, independente da crise econômica. As nações devem seguir o exemplo do C40, grupo que reúne as 40 maiores cidades mundiais que compartilham experiências de sucesso e alcançaram metas de redução de GEE.
Portanto, não adianta prevermos a recuperação econômica se ao fim deste século não houver um Planeta habitável com o acréscimo médio de 5 graus na temperatura global.
A sobrevivência da raça humana deve ser priorizada frente ao desenvolvimento econômico.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Lixo Zero

Acompanho com atenção o Programa carioca Lixo Zero que começou a ser implementado a três meses pela Prefeitura carioca. Este programa multa o cidadão que descarta resíduos em vias públicas. Segundo dados da Comlurb, a quantidade de lixo recolhida em toda a cidade — cerca de dez toneladas, 60% domiciliar e 40% do público — não diminuiu, mas houve redução de 50% do descarte nas vias públicas.
Ao invés de implementar programas de Educação Ambiental, multar e castigar o bolso no Brasil ainda, infelizmente, é a alternativa eficaz. 
Com a entrada em vigor da Política Nacional de Resíduos Sólidos, todos os municípios serão obrigados a criar seu Plano Municipal de Gerenciamento sob pena de secar a fonte de receita Federal. 
Assim, ao criar uma programa intitulado "Lixo Zero", leva-nos a pensar que o objetivo do programa é a não geração de resíduos. Isto é, quando falamos em Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, a redução na geração deve ser o primeiro passo e o principal foco. 
Como vimos acima, isto de fato não ocorreu. O programa busca tão somente diminuir o trabalho de varreção da Comlurb.
Pois bem. 
A mesma PNRS, impõe uma responsabilidade compartilhada entre  fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, os consumidores e os titulares dos serviços públicos de limpeza urbana.Ou seja, quando falamos sobre um produto, para identificar os responsáveis, deve-se analisar o ciclo de vida deste produto - do berço ao berço. Todos os envolvidos neste ciclo de vida do produto deverão ser co-responsáveis. Desde a extração da matéria prima até o descarte pós-consumo.
Quando a Prefeitura, na melhor das suas intenções, afim de "limpar" a cidade, estabelece esse programa, estará muito aquém do objetivo principal. 
Um mero Programa  lixo zero não resolve. O ideal é criar um Plano de Gerenciamento que envolva e integre a educação dos consumidores para o descarte adequado, logística reversa do fabricantes para resgatar os resíduos gerados - incentivando a reciclagem e reaproveitamento destes resíduos- e a destinação adequada dos resíduos não reaproveitados entre outros elementos.
Portanto, não basta implementar um programa que visa multar os usuários. Deve haver um trabalho sério de planejamento, cooperação pública/privada e de conscientização da população em relação ao descarte e geração dos resíduos. 
Só assim poderíamos falar em Lixo Zero.


terça-feira, 12 de novembro de 2013

Empresa Sustentável ou Greenwashing?

A Sustentabilidade é atualmente uma tema muito difundido e em voga,

No entanto, o primeiro erro que se comete é confundí-la com preservação do Meio Ambiente. Não estou aqui excluindo este elemento. O Meio ambiente é apenas um dos pilares da Sustentabilidade.

A Sustentabilidade é a união harmônica de três pilares inseparáveis e coexistentes: os pilares ambiental, social e econômico, mais conhecidos como triple bottom line, desenvolvido por John Elkington: “Hoje, se pensa em termos de um dos três pilares, com enfoque na prosperidade econômica, na qualidade ambiental e – o elemento ao qual as empresas preferiram fazer vistas grossas – na justiça social”( Elkingston, John; Sustentabilidade, Canibais com Garfo e Faca, 2012 – Mbooks do Brasil Ed. Ltda).



Assim, antes de uma empresa se declarar sustentável deve-se atentar para estes três pilares. Na verdade, devemos analisar mais do que isso. Devemos analisar se a empresa pratica a Sustentabilidade internamente. Não basta ela patrocinar projetos sociais ou plantar árvores como medidas compensatórias. Não é sustentável ter um relatório de Sustentabilidade. Ela tem de ter a Sustentabilidade como valor estratégico que pautará todas as suas decisões corporativas. Isto é, ela deve ter em suas áreas de Finanças, Marketing, Jurídico, Logística, Suprimentos, entre outras, o valor da Sustentabilidade. 

A Sustentabilidade deve ser um valor transversal e Vertical. Transversal em relação às áreas e Vertical em relação aos funcionários. Do Presidente ao chão da fábrica, todos devem pensar sustentável. Cada um à sua maneira.

Desta forma, vemos empresas que são consideradas sustentáveis e que fazem parte de Rankings das empresas mais sustentáveis, mas que praticam o greenwashing. Anunciam o financiamento de carros com emissão zero de carbono, vendem seus produtos por uma rede de vendedores autônomos - sem carteira de trabalho assinada. Onde estão os 3 pilares????? Elas se vendem sustentáveis, mas não são!!!

Portanto, antes de trocar gato por lebre, verifique os processos internos da empresa. Caso contrário, estará sendo vítima de um marketing verde agressivo e enganador.


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Pré-Sal já nasceu fadado ao fracasso

Recentemente, estivemos às voltas com o leilão do poço de Libra, o primeiro a ser leiloado do Pré-Sal brasileiro. 
Grandes gigantes petrolíferas se juntaram à Petrobrás para explorar este poço que é considerado o maior já achado em território brasileiro, pagando a bagatela de 15 bilhões de reais - o lance mínimo exigido, fora o investimento de trilhões que AINDA deverá ser feito.
Neste contexto, há atualmente explorações no Pré-sal africano e em outras regiões mundo afora. Ocorre que esta exploração em águas profundas é de elavado risco. 
Isso porque as técnicas existentes são escassas e onerosas por serem aplicadas em uma camada muito profunda. 
Segundo, em um mundo que caminha para a economia de baixo carbono, apostar na exploração de Petróleo em regiões profundas não há certeza que vá encontrar o pote de ouro, vide o caso recente da OGX que apostou em grande produção e só encontrou vento por lá.
Atualmente, o preço do barril tem variado entre US$ 100 e US$ 110 nos últimos dois anos. Para compensar economicamente a exploração nestes novos locais, o preço do barril deverá ser algo em torno de U$ 200,00, afirmam os economistas. Portanto, não é uma questão geológica, mas sim econômica. 
Hoje o petróleo é elemento inerente à Economia mundial. Está presente no Transporte, nos plásticos, querosene etc. Mas deveremos rever nossos conceitos rumo à economia de baixo carbono.
Investir em energias limpas  - cada vez são mais baratas-  é a nova tendência. Encontrar substitutos aos mais diversos aplicações do Petróleo -  substitutos ambientalmente corretos - também. 
O petróleo não irá acabar. Mas a demanda por ele sim!


segunda-feira, 21 de outubro de 2013

ISE e Sustentabilidade Corporativa

O ISE - Índice de Sustentabilidade Empresarial é um índice criado pela Bovespa no qual analisa a prática da Sustentabilidade Corporativa, levando em consideração o desempenho econômico, o equilíbrio ambiental, a justiça social e governança corporativa.
A mais recente carteira do ISE foi anunciada no dia 29 de novembro de 2012 e vigora de 07 de janeiro de 2013 a 03 de janeiro de 2014. A oitava carteira do ISE reúne 51 ações de 37 companhias, que representam 16 setores e somam R$ 1,07 trilhão em valor de mercado, o equivalente a 44,81% do total do valor das companhias com ações negociadas na BM&FBOVESPA 
Uma recente pesquisa realizada pela Bovespa mostrou que estar presente no índice também pode ser mais lucrativo. Segundo dados da BM&F Bovespa de 2012, o indicador se valorizou 5,15% enquanto o Ibovespa, o principal índice da Bolsa, apresenta queda de 5,94% no mesmo período. Naquele ano, o ISE acumulou alta de 13,82% contra uma valorização de 13,67% do Ibovespa.
Apesar da importância deste índice que impulsiona e incentiva a adoção de medidas sustentáveis, não significa dizer que a empresa que compõe este índice é genuinamente sustentável, isto é, pratica a Sustentabilidade em nível estratégico.
Hoje, o que se tem mais no mercado são empresas proclamando sua Sustentabilidade esperando um retorno de reputação, praticando o velho greenwashing. E fazer parte do ISE traz esse esperado retorno .
O ISE é atualizado a partir de questionários que são distribuídos entre as empresas emissoras das ações mais líquidas da BM&FBovespa. Estes questionários são respondidos sem qualquer obrigação de auditoria externa. As empresas respondem conforme os dados levantados internamente, mas sem qualquer "compromisso" com a verdade. Mostram apenas o que querem, como no relatório GRI, no qual as empresas relatam informações opacas.
Não podemos analisar se uma empresa é sustentável apenas pela adoção de medidas isoladas ou pela sua inclusão no índice. Para uma empresa ser sustentável ela deve pensar e se planejar de forma sustentável.
É certo, porém, que a adoção de medidas sustentáveis traz às empresas mais eficiência operacional, o que as torna menos suscetível à crises econômicas, como reflete o ISE. São investimentos mais seguros.



segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Carro Elétrico é uma alternativa melhor?

Muitos me perguntam porque não tenho carro. Primeiro, acredito que manter um carro é muito caro. Pagar seguro, gasolina e manutenção do carro é tão caro quanto criar um filho. Segundo, prefiro priorizar o transporte público ao transporte individual. E por último e não menos importante, o transporte individual emite muito mais Gás Carbônico, contribuindo para o Aquecimento Global.
Para esta última justificativa, tentam argumentar que quando o carro elétrico for economicamente acessível, optarei por ele.
E estão certos!
Mas devemos atentar para um detalhe: Não é porque é elétrico que será menos poluente.
De fato, ele não emite qualquer gás. Mas, para este quesito, devemos analisar a matriz elétrica brasileira.
Hoje ela é composta de 64% de hidroeletricidade e quase 16% de petróleo e gás.
Assim, quando existir uma rede de abastecimento/recarga extensa e segura que viabilize e crie certa autonomia para o carro elétrico brasileiro, e principalmente, abastecida por fontes renováveis, apoiarei e talvez comprarei um exemplar para mim.
Caso contrário, se a eletricidade vier de fontes sujas como Petróleo e Gás, nada mudará em relação ao cenário atual.
Hoje o carro elétrico está muito elitizado. Deveria haver incentivos federais à produção e comercialização deste veículo no Brasil, ao invés de simplesmente baixar o IPI de outros modelos de carros. As ruas ficariam mais silenciosas e menos poluídas.
Por exemplo, a Renault, uma das pioneiras a lançar o carro elétrico no mundo, lançou o modelo Zoe no Brasil a um custo de R$ 215 mil. Este valor cairia para algo entre R$ 80 mil e R$ 90 mil - cerca de 60% a menos - com incentivos do governo federal. Lançado como o primeiro "popular" elétrico na Europa, o Zoe é comercializado por apenas 21 mil euros.
Diferenças à parte, o carro elétrico é o futuro do transporte individual brasileiro. Fiquemos de olho.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Transporte Público insustentável

A cada dia o trânsito brasileiro torna-se mais caótico.  A cada ano que passa, há a entrada de novos carros na frota brasileira. Dados do jornal OGlobo da semana passada informa que a produção de carros em setembro de 2013 aumentou em 15% comparado com o mesmo período do ano passado. Isso é reflexo do aumento do poder econômico dos brasileiros e da política de isenção fiscal governamental.
É certo que a renovação da frota leva às ruas carros mais eficientes e, portanto, menos poluentes. Mas ainda assim, a emissão de GEE do setor de transportes só vem aumentando. Em comparação com 2004, teve um aumento de suas emissões em 120%!!!
Diante desse número absurdo, é correto relativizar as emissões. Apenas parte da população tem a possibilidade de comprar um carro. A grande parte recorre ao transporte público. À título de comparação, em um percurso de 16 km, um carro emite 0,75 t de CO2, enquanto o trem emite 0,6 t e o ônibus apenas 0,3 t de CO2.
Soma-se a esse cenário, o subsídio à gasolina, incluindo a redução da Cide, em detrimento da falta de investimento em biocombustíveis.
Isso nos obriga a questionar: Porque não investir em transporte público o valor subtraído da receita federal, ao invés de isentar de impostos a indústria automobilística?
Com as isenções de impostos para carro e gasolina desde 2003, o Governo deixou de arrecadar R$ 32,5 bilhões, sendo 10,5 bilhões desde 2009 com a redução de IPI para carros. Com este valor, seria possível construir 1.500 quilômetros de corredores de ônibus ou 150 quilômetros de metrô. A verba seria suficiente, por exemplo, para a criação de corredores segregados nas 12 metrópoles brasileiras.
Torna-se preponderante planejar estrategicamente o melhor investimento. Investir na qualidade de vida da população ou na produção de bens de consumo? Certamente, o lobby de um segmento da economia não deve ecoar mais alto do que beneficiar a população.

segunda-feira, 25 de março de 2013

O roubo dos Royalties


Após a promulgação da nova de lei dos Royalties pelo Congresso Nacional, mesmo após o veto da Presidenta Dilma, a qual alterou o regime da Lei 7990/89, estados produtores de Petróleo – RJ, ES e SP – interpuseram Ação de inconstitucionalidade para reaver seu direito de recebimento dos recursos oriundos dos royalties. A Ministra relatora Cármen Lúcia, em sede de liminar, suspendeu a eficácia desta nova lei por entender que afeta o orçamento dos estados e municípios, além de violar o pacto federativo.
Concordo plenamente com a análise preliminar da Ministra. O Pacto federativo mencionado diz respeito ao acordo realizado em 1988 quando os estados produtores e não produtores alteraram o regime jurídico do ICMS. Em troca dos royalties, este imposto de competência estadual não mais seria devido na saída da mercadoria/produto, no caso, o petróleo, e sim arrecadado no estado de destino. Este acordo, por si só, já foi prejudicial aos estados produtores que estimam uma perda de arrecadação no valor de R$ 10 bilhões, isto é, caso arrecadassem o tributo e não recebessem os royalties, teriam arrecadado desde a celebração do pacto dez bilhões de reais a mais.

No entanto, há certo simbolismo por trás do royaltie. Segundo definição trazida pelo site do Senado Federal, Royalty é uma palavra de origem inglesa que se refere a uma importância cobrada pelo proprietário de uma patente de produto, processo de produção, marca, entre outros, ou pelo autor de uma obra, para permitir seu uso ou comercialização. No caso do petróleo, os royalties são cobrados das concessionárias que exploram a matéria-prima, de acordo com sua quantidade. O valor arrecadado fica com o poder público. Segundo a atual legislação brasileira, estados e municípios produtores – além da União – têm direito à maioria absoluta dos royalties do petróleo. A divisão atual é de 40% para a União, 22,5% para estados e 30% para os municípios produtores. Os 7,5% restantes são distribuídos para todos os municípios e estados da federação.
Além disso, servem, sobretudo, de compensação aos prováveis riscos ambientais a que se submetem. Vazamentos de óleo são inerentes à produção e transporte de petróleo, por menor que seja. Neste caso, a população local e seus recursos naturais serão inevitavelmente afetados. Se ainda falássemos de impacto regional ou nacional, mas não é o caso. Em caso de derramamento de óleo do mar do Rio de Janeiro, não haverá qualquer impacto no estado do Mato Grosso, por exemplo.

No entanto, por uma manobra política, os estados não produtores ao possuírem maioria esmagadora no Congresso, diante da possibilidade de aumentarem seus recursos e seu orçamento sem esforço algum, resolveram quebrar o pacto celebrado. Não só violaram o direito adquirido em contratos já celebrados, como violaram expressamente a CF.
A CF no artigo 20 estipula os bens da União, entre eles os recursos minerais, inclusive os do subsolo, bem como os recursos naturais oriundos da plataforma continental e da zona econômica exclusiva. Percebe-se, primeiramente, que o Petróleo sequer é bem dos estados, o que por si só evitaria qualquer conflito em matéria de titularidade de recursos. .
Segundo ponto e o principal: a CF ainda assegura aos estados e municípios a participação na produção ou a respectiva compensação nos casos de petróleo, gás natural, recursos minerais e recursos hídricos para geração de energia elétrica que ocorram no seu território.  Esta participação é expressa e imperativa. É ordem constitucional que deverá ser respeitada por todos os entes da federação. Apenas através de emenda constitucional que esse panorama poderia ser modificado.
Acredito ser uma covardia essa alteração pelos estados não produtores. Covardia por serem maioria no Congresso. Covardia por violarem um pacto. Covardia pela ignorância e desconhecimento da lei suprema.  Caso queiram a renovação do pacto, deve-se rediscutir a redistribuição dos royalties dos minérios destinados ao Pará e a Minas Gerais, dos royalties dos recursos hídricos destinados ao Paraná pela Usina de Itaipu.
Se não bastasse essa violação, os estados produtores concordaram com a alteração parcial, desde que permanecessem com os contratos já celebrados, o que por si só já geraria prejuízos. Nem assim, os estados não produtores aceitaram. O olho e a sede por dinheiro foram grandes demais. Agora diante da possibilidade de perda no STF, começam a rediscutir o acordo através dos Governadores de estado.
         Não creio que os estados produtores devam se sujeitar a este acordo. A alteração, como demonstrado, provocada pelo Congresso através de lei ordinária é flagrantemente inconstitucional. É causa ganha. E digo mais: ganhar a causa no STF será uma grande rasteira nesses ladrões de royalties